sábado, 31 de março de 2012

Uma cidade misteriosa no sertão

Um manuscrito encontrado na Biblioteca Nacional, já roído por cupim, e publicado no primeiro tomo da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, leva o seguinte título: Relação histórica duma oculta e grande povoação antiqüíssima, sem morador, que se descobriu no ano de 1753. O autor do curiosíssimo documento escreveu:

"Depois duma larga e importuna peregrinação, incitados da insaciável cobiça ao ouro e quase perdidos em muitos anos neste vastíssimo sertão, descobrimos uma cordilheira de montes tão elevados que pareciam chegar à região etérea e que serviam de trono ao vento, às estrelas. O luzimento que de longe se admirava, principalmente quando o sol fazia impressão no cristal de que era composta, formando uma vista tão grande e agradável que ninguém daqueles reflexos podia afastar os olhos. Entrou a chover antes de entrarmos a registrar esta cristalina maravilha e víamos, sobre a pedra escalvada, correr as águas se precipitando dos altos rochedos, nos parecendo a neve ferida pelos raios solares, pelas agradáveis vistas...".

Depois desses pretensiosos tropos literários, de cujo fim, felizmente, as sevandijas deram cabo, discorre o autor anônimo: "Abarracados nós e com o desígnio de retrocedermos, no dia seguinte, sucedeu correr um negro, andando à lenha, a um veado branco, que viu, e descobriu, por acaso, o caminho entre duas serras, que pareciam cortadas por artifício e não pela natureza. Com o alvoroço dessa novidade principiamos a subir, achando muita pedra solta e amontoada por onde julgamos ser calçada desfeita com a continuação do tempo. Gastamos boas três horas na subida suave pelos cristais que admiramos, e no cume do monte fizemos alto, do qual, estendendo a vista, vimos num campo raso maiores demonstrações pra nossa admiração. Divisamos coisa de légua e meia uma povoação grande, nos persuadindo, pelo dilatado da figura, ser alguma cidade da corte do Brasil...".

Foram mandados exploradores à mesma, continuou a relação, os quais voltaram desenganados, pois, embora ouvissem cantar os galos, não encontraram alguém. Guiados por um índio, entraram, todos, na madrugada, cidade adentro, devidamente prevenidos e armados. A entrada se fez por um arco triunfal semelhante ao de Constantino, em Roma, com uma porta larga entre duas menores. Não foi possível ler, devido à altura, a epigrafia que coroava o monumento.

Seguiram numa avenida de sobrados iguais e simétricos com terraços de lajes ou de ladrilhos requeimados. Visitaram muitas dessas moradias, todas sem alfaia, sob cujas abóbadas as vozes ecoavam soturnamente. No fim dessa rua havia uma praça regular, tendo, no centro, sobre uma coluna de granito negro, uma estátua de homem, de pé, a mão esquerda pousada na ilharga e a direita apontando o pólo norte. A cada canto da praça se erguia uma agulha, à imitação das que usavam os romanos. Quais? Agulhas de pedra com os obeliscos egípcios ou quadrantes solares?

Do lado direito de tal praça, um palácio soberbo, invadido por morcegos, com um baixo-relevo no pórtico, representando pessoa de pouca idade, sem barba, com uma banda atravessada e um fraldelim na cintura. Embaixo se viam alguns caracteres epigráficos que o manuscrito reproduz. Do lado esquerdo se erguia um templo de magnífico frontispício, cheio de efígies e cruzes. Em seguida os restos da cidade sepultados em grandes e medonhas aberturas da terra em que não brotava erva entre montões de pedras toscas ou lavradas.

Era a cidade banhada por um rio caudaloso, de margens limpas e agraciáveis, além do qual se estendiam viçosos campos, plantações de arroz e bandos de patos que se apanhavam com as mãos. Durante três dias desceram o curso de água até chegarem a estrondosa cachoeira, onde a força da correnteza não era menos do que a das bocas do decantado Nilo. Ali o rio se espraiava de tal modo que parecia o grande oceano. A oriente da catadupa, socavões cuja profundidade foi impossível sondar e em cuja entrada se encontravam vestígios de prata, como tirados das minas deixadas ao tempo. Uma dessas furnas era coberta por grande laje com figuras misteriosas gravadas, que o documento reproduz. No meio do campo outro palácio com escadaria de pedras de várias cores e quinze aposentos, além do salão. Cada qual com sua bica de água encanada. No pátio, colunatas circulares.

Nas margens do rio acharam boa pinta de ouro e prata. Viram andorinhas, morcegos, raposas enormes e ratos de pernas curtas, que não andavam nem corriam, mas saltavam como pulgas. Um dos companheiros, se afastando, deu com uma canoa tripulada por duas pessoas brancas de cabelo preto e vestidas à européia, as quais fugiram. Outro chamado João Antônio achou, numa ruína, um dinheiro de ouro, figura esférica, maior que nossas moedas de seis mil e quatrocentos, tendo, no anverso, a imagem dum moço ajoelhado e no reverso um arco, uma coroa e uma seta.

O manuscrito termina assim: "Estas notícias mando a v. m. deste sertão da Bahia e dos rios Paraguaçu e Una, assentando não darmos parte a pessoa alguma, porque julgamos se despovoarão vilas e arraiais. Mas a v. m. a dou das minas que temos descoberto, lembrado do muito que te devo. Suposto que nossa companhia saiu já um companheiro com pretexto diferente, contudo peço a v. m. largue essas penúrias e venhas utilizar estas grandezas, usando da indústria de peitar esse índio, pra se fazer perdido e conduzir v. m. a estes tesouros...".

Não se sabe a quem fora dirigida a curiosa relação nem seu autor. A única referência certa, além da data, é a do sertão da Bahia, nos rios Paraguaçu e Una. Nada mais. Pois, apesar disso, o que nele se encontra foi tomado a sério e, sob os auspícios do Instituto Histórico e o amparo oficial, cônego Benigno José de Carvalho e Cunha, que pra isso se oferecera, entrou ao sertão baiano buscando a cidade misteriosa.

Em junho de 1844 oficiou ao governador da província da Bahia, dizendo que desde o ano anterior andava naquela busca já descoroçoado de achar a tal cidade na margem direita do Paraguaçu e na serra de Sincorá. Levava um roteiro impresso pelo instituto e o combinava com as notícias que obtinha, convencido de que a cidade abandonada estava situada acima do Orobó. E terminava:

"Estes meus cálculos sobre o lugar da cidade abandonada acabam de ser confirmados por uma testemunha de vista. Indo eu ao Tingá, recebi uma carta de José Rodrigues da Costa da Otinga, na qual me diz que um negro cativo, morador com seu senhor no lugar que chamam serra do Orobó, que morou anos dentro dos maninhos, se me oferecia pra acompanhar e mostrar o quilombo, onde esteve, e a cidade que busco. Disse, esse negro, que o quilombo está fora da cidade abandonada, mas perto, que os negros do quilombo ali vão passear nos domingos e dá tão exata notícia das casas e entrada da cidade, das estátuas e do rio que corre defronte, que quadra completamente com o roteiro do Instituto e com o que eu calculara. Mandei chamar o negro e lhe prometi a alforria, porém o senhor não o deixou vir, pois mesmo tendo havido pessoa da Otinga que pretendeu comprar o negro o senhor não o vende por preço algum. Entretanto minha guia é o rio: Terei mais trabalho mas não deixarei de ter bom resultado. Há três meses que estou doente, não sei o mais que tem havido a respeito desse negro mas haverá 15 dias me instaram na Otinga pra apressar minha entrada, que tínhamos guia. Se Deus me der saúde entrarei depois de São João".

O crédulo cônego Benigno desde 1842 procurava aquela miragem, assinalada no documento aliteratado que citamos, sertões adentro. Em 23 de janeiro de 1845 se dirigiu, mais uma vez, ao tenente-general Soares de Andréa, governador da Bahia, confessando que, depois de percorrer a Serra do Sincorá e encontrar entre a gente velha dali tradição oral do episódio do veado branco que dera a conhecer aos aventureiros do século 18 a existência da cidade abandonada, repisou a história do negro que conhecia a tal cidade e pediu mais dinheiro.

Afirmou com solenidade: "Me animo a afirmar a V. Exa. que a cidade está descoberta. Mas, pra dar com mais brevidade esta gostosa notícia aos sábios do Brasil e da Europa, que estão com os olhos em mim pra saber, decerto, a existência dum monumento de tamanha transcendência prà história deste país, são necessários socorros, pois num terreno ocupado por negros e feras me é indispensável entrar com cautela, com gente armada e municiada e levar mantimento, porque daqui a dentro não há o que comer...".

Em julho de 1848 Manuel Rodrigues de Oliveira fazia uma comunicação publicada pelo Instituto Histórico, criticando a perambulação sem rumo de cônego Benigno e assegurando que as indagações deviam partir do local assinalado no manuscrito do século 18, a confluência e barra dos rios Paraguaçu e Una. Primeiro, porque ali, onde depois foi plantada a vila de Belmonte, se encontram fragmentos de móveis antiqüíssimos, de louças e ferramentas carcomidas, mesmo restos de alicerces e paredes. Segundo, porque dali ao centro, na fazenda Provisão, a 22 léguas [88km] de Camamu, se encontravam montículos de ruínas como de antigas ruas, fragmentos de louça pintada, escumalho de ferro, foices, machados e moedas de cobre à romana, tão grandes que delas os meninos faziam roda de carrinho. Mais adiante se veria a catadupa assinalada no papel de 1753. Terminava descrendo de que o cônego Benigno achasse algo e assegurando que guardava em segredo suas notícias sobre o assunto, certo de estar servindo à grandeza do Brasil.

Se fez, após esse comunicado, um grande silêncio sobre a cidade misteriosa do sertão baiano. Cônego Benigno morreu sem a ter achado. Manuel Rodrigues de Oliveira também. Do negro de Otinga que conhecia seu roteiro nem mais notícia.

Mas em 1886, quase 40 anos depois, o conselheiro Tristão de Alencar Araripe, em sua memória sobre Cidades petrificadas e inscrições lapidares no Brasil, escreveu: "A existência de cidades abandonadas no interior de nossos extensos e inexplorados bosques tem sido, às vezes, anunciada, e bem conhecemos o empenho com que esse instituto procurou verificar a notícia dada num roteiro escrito em 1753 e encontrado na Biblioteca Nacional desta corte... Cônego Benigno da Cunha, nosso consócio, hoje falecido, se incumbiu da investigação e descoberta da inculcada cidade. Nada pôde conseguir, se queixando da falta de recurso pruma indagação completa. E assim continua problemática a existência das ruínas descritas no roteiro".

É mais que provável que a relação de 1753 seja mera fábula criada por um sujeito de fértil imaginação, dosado de pretensão literária. Parece mais uma página de Rider Haggard, em As minas do rei Salomão, que um roteiro de verdade.

Até hoje já seria tempo de se ter qualquer notícia de tais ruínas com estátuas, praças e epigrafias, se tudo não passasse dum conto à dormir débout, história pra boi dormir ou lagartixa cair da parede, segundo diz, espirituosamente, nosso povo.


Gustavo Barroso
___________________________________________________________________________
Fonte: "Segredos e revelações da história do Brasil", Gustavo Barroso - Edições O Cruzeiro - 2ª edição - Agosto de 1961.

O calabar de batina

Gravura holandesa mostrando o cerco a Olinda de Pernambuco em 1630.

Foi o Brasil, no mundo colonial ibérico, a única região onde repercutiram as lutas religiosas travadas na Europa da segunda parte do século 16 à primeira do século 17. É esse um dos aspectos mais importantes das tentativas de fixação de franceses, ingleses e holandeses em vários pontos de nosso país. Pontos ainda não estudados convenientemente.

Até hoje, a nossos historiadores, preocupados tão-somente com as razões políticas ou com os fatores econômicos da pirataria e conquista daqueles povos contra os domínios ultramarinos dos portugueses, escapou aquela feição, nitidamente definida de alargamento também da esfera de influência protestante no universo.

A reforma luterana determinara, na Europa, a famosa guerra dos Trinta Anos, a que pôs termo, provisoriamente, a paz de Vestfália, celebrada em Münster, cujo tratado adrede feito nada mais foi que a sementeira de agitações e lutas que vieram até o tempo da revolução francesa, por sua vez preparadora doutras lutas e doutras agitações. Depois de Lutero, Calvino formou partidários na Suíça, Flandres e França. A nova seita protestante dividiu a catolicíssima nação em huguenotes e papistas.

A Espanha imperial e católica assumiu a liderança da contra-reforma. Daí suas intervenções na política francesa desde o século 16, suas guerras em Países Baixos contra os gueux calvinistas e seu longo duelo marítimo com a Inglaterra. Como nação também fundamentalmente católica, Portugal teve de sofrer ataques que se intensificaram em suas colônias da África, América e Ásia, sobretudo após sua queda sob o domínio espanhol.

A heresia calvinista procurou firmar pé no Brasil com o estabelecimento de Villegaignon na baía de Guanabara. Os fundamentos religiosos dessa tentativa são evidentes, pois discussões violentas em matéria de crença separaram os colonizadores da França Antártica, e o episódio de João de Bolés nos demonstra a tentativa de propaganda protestante entre os silvícolas, com destruição conseqüente da catequese jesuítica.

Na conquista de Pernambuco e terras adjacentes pelos holandeses, quase um século depois, é também claro o elemento religioso. Os hereges perseguiram os católicos em Recife e alhures, os passam a fio de espada como no engenho Cunhaú ou tentaram a propaganda calvinista no seio da indiada, além de serem apoiados sempre pela numerosa judiaria daquele tempo em terra brasileiras.

No bastidor dessa luta de religião no Brasil, há episódios interessantíssimos, que nos dão informes curiosos sobre caracteres e ações de indivíduos nela participantes, bem como até onde podia ir, na época, o sentido religioso da vida. O do jesuíta Manuel ou Francisco Morais, pois se não sabe bem seu nome de batismo, é dos mais elucidativos. No auto-de-fé realizado a 7 de abril de 1642, em Lisboa, pela Santa Inquisição, foi queimado em efígie.

O que teria feito o padre pra tão dura pena, embora fosse sacerdos in aeternum? Passou do lado dos pernambucanos, que defendiam o Brasil luso-católico ao dos holandeses, que representavam a conquista herege. E, como se isso não bastasse, sem trepidar, lançando a batina às urtigas, abjurou o catolicismo, se declarando calvinista e se casou com uma holandesa sectária desse credo. Grande e grave foi esse escândalo em nossa vida colonial.

Tão, grande e tão grave que repercutiu na própria existência, em nossas plagas, da ordem Inaciana, pois que o invocaram pra justificar a falta de confiança na mesma que alegavam todos quantos tinham interesse na escravização dos índios, que ela tenazmente combatia, a fim da pôr fora de seus arraiais. Não esqueçamos de que, um século e pico antes do marquês de Pombal, deste lado do Atlântico, especialmente no Maranhão e em São Paulo, se propugnou e efetuou a expulsão dos jesuítas. Em São Luís contra eles tenazmente lutou Manuel Bequimão.

No volume 1, páginas 684 e 685, de Cronologia paulista, de J. J. Ribeiro, se encontra, firmado por 124 homens bons de São Paulo, entre os quais Amador Bueno da Ribeira, o Aclamado, o que não quis ser rei, Domingos Jorge Velho, governador do gentio de cabelo corrido, herói de Palmares, um dos grandes generais do sertão, e todos os procuradores das vilas das capitanias de São Vicente e Santo Amaro, notável documento que declara ter sido a expulsão dos jesuítas de São Vicente, no mesmo ano, baseada no grande crime de padre Morais, da capitania de Pernambuco.

Leiamos nesse papel o trecho que mais nos importa:" ...e juntamente constando que um padre de sua mesma ordem, religioso professor, sacerdote e pregador, que governavam as aldeias dos índios de Pernambuco, por nome padre Francisco Morais, ao qual constituíram capitão e governo dos mesmos índios na guerra de Pernambuco contra os holandeses, se rebelou e lançou com o inimigo levantando guerra contra os nossos, assim ele com os mesmos índios, nos fazendo notável dano e morte, de que procedeu a total ruína de Pernambuco por serem os índios muitos em quantidade, e por remate se fez apóstata e foi casar em Holanda, e tem os ditos reverendos padres tanta mão com estes índios que se pode temer o risco de nossas vidas...".

Aqui os escravizadores da bugrada se sangraram em saúde, aproveitando a negregada traição e apostasia de padre Morais pra lançar caluniosa e vil suspeita sobre toda a companhia de Jesus, apontada sibilinamente como capaz de usar os índios contra os colonizadores lusos, como o fizera o infeliz sacerdote. Pra isso exageram a importância de seu ato injustificável, lhe atribuindo a total ruína de Pernambuco. Na opinião desses caçadores de escravo de São Paulo, fora padre Morais um verdadeiro Calabar de batina.

Grande e negra a traição, gravíssima a apostasia, mas nem uma nem outra de molde a causar essa total ruína ou a transformar em flamengo-herege o Brasil luso-católico. Na verdade, como chefe de várias aldeias de índios mansos ou em vias de redução, adotar o calvinismo e levar todos esses íncolas ao grêmio calvinista foi obra tão maléfica que custa a crer a tenha praticado um jesuíta. 

É o caso de recordar a lição camoniana de que, mesmo entre os portugueses, alguns traidores houve algumas vezes. Também entre os jesuítas. Não foi esse, infelizmente, o primeiro e único exemplo. Outros, embora raríssimos e distanciadíssimos, lhe sucederiam na viagem do tempo.

À gravidade do crime do Calabar de batina correspondeu a pena inquisitorial: Morte da fogueira do auto da fé lisboeta, em efígie, porque o novo calvinista se refugiara em Países Baixos, fora do alcance da justiça que o perseguia.

Gustavo Barroso
___________________________________________________________________________
Fonte: "Segredos e revelações da história do Brasil", Gustavo Barroso - Edições O Cruzeiro - 2ª edição - Agosto de 1961.

O monstro de praia Vicentina


As formas espantosas dos animais antediluvianos entrevistas pelos homens pré-históricos nas cavernas geladas ou as suas ossadas imensas encontradas nos pântanos causaram profunda sensação que, transmitida através das gerações, deu, sem dúvida, origem a muitas das lendas de bestas híbridas e horrendas. E todos os povos primitivos misturaram as formas vivas da água e da terra nessa produção duma verdadeira fauna de pesadelo, que velhos livros nos descrevem e antigos documentos iconográficos nos apresentam pintados ou esculpidos.

Os chineses criam no grande dragão Tatsmaki. Os hindus na imensa tartaruga Kusmaradja, na fabulosa serpente Midgard, no bicho Saza, de cabeça de cobra, no Çafir, de bico de águia e corpo de cão, na Çaga, de cara de milhafre e cauda de flor. Os árabes himiaritas e nabateus no pássaro Roca e nas aves Homai. Os cafres na serpente Manika, que bóia no mar como a dos escandinavos. Os esquimós no Tupilek, que tem milhões de pés, de olhos e de dentes. Os finlandeses no misterioso Herlihanem, que envenena o ferro. Os polinésios no homem-porco ou porco-homem Tamampuá.

A lista é longa, variada e apavorante. A ela concorrem os assírios com o sinistro Lahmu, nascido da mistura de água doce e salgada, com homens-escorpiões, os touros-alados, anjos-gafanhotos e deuses-peixes. Os gregos com centauros, dragões, hidras, Quimera, Minotauro, górgonas, sereias e o Campé, morto por Dionísio, que revolvia campos, devorava povos e arrasava cidades.

Os egípcios com a Esfinge, a Fênix e os deuses chacais, cinocéfalos ou gaviões. Os japoneses com o Baku, que devora os sonhos, e o Raiboku, que ataca o raio e cai despedaçado em chuva de pedrinhas pretas. Os cingaleses com o Daity-Mura de cinco cabeças. Os judeus com o pavoroso peixe Leviatã e o Hud-hud, pássaro de ouro que conversava com Salomão. Os africanos com o Kamapa, tão grande que duma extremidade não se vê a outra, e o Seedinevé, que engole aldeias inteiras. Os navegadores antigos com o Kraken, polvo gigante12 que sugava navios e o peixe-bispo, que abençoava os náufragos na hora da morte.

Os apocalipses, os volucrários, os fisiólogos, os bestiários, as moralizações e os espelhos naturais, nomes dados, geralmente, na Idade Média, a obras que traziam notícia ou figura desses bicharocos tremendos, enumeravam monstros de arrepiar: Capricervos, Caprimolgos, Capricórnios e Tragelafos, mestiços de bodes, veados e serpes; Cepus, mescla de pantera, gazela e leão; Sarcófagos, touros carnívoros; Crocotas, lobos e cães ao mesmo tempo; Dpsades, Anfisbenas, Acôntias, Áspides, Cerastas, Fisalos, Ceprestas, Basiliscos, Cítalos, Pancadas, Kesiduros, Enhídrios, Ascalábios, Ptíades, Anerudutes, Sanglos, Rútelos, Estifos, Filolópios, Céncrinos, Amolotes, Heláganas, Atélabos, Cicriodes, Selsiros, Onocrócalos e Coquátris, espantosa série de répteis monstruosos, alguns que até zurravam como jumento.

A fantasia humana não teve limite na criação de tanta monstruosidade. Encontramos no estudo das fábulas antigas, a cada passo, as bestas apocalípticas: Hipocampos, hipogrifos, hipocervos, grifos, guivras, oquilis, unicórnios, rafos, tarandos, salamandras, catopléias, cinamolgos, lumerpas, bonasios, pastinacas, masticoras, senadios, mirags, saduzags e manhotes. Na hagiografia cristã os animais fabulosos aparecem ao lado dos santos: O dragão Cauquemar lanceado por São Jorge, a Tarasca aos pés de Santa Marta, a baleia Fisetério conduzindo São Brandão, o lobo voraz de Gúbio amansado por São Francisco de Assis e a gárgula dominada por São Romano.

Algumas dessas criações híbridas representam verdadeiros símbolos. O que é o Falmante, leopardo que estourava de gritar sem necessidade, senão a representação figurada de certos indivíduos? O que é o Mirmecóleo (Mimercoleão), leão na frente e formiga atrás, senão o emblema dos fracalhões, que roncam, aparentando força que não possuem? O que é o Presteros, cujo contato tornava imbecil, senão o retrato de certas pessoas e de certas épocas que espalham a imbecilidade e a estupidez?

Entre os portugueses também correu, quando revolviam mundos e mares na sede de aventura, a história dum desses bichos apavorantes. A contou Fernão Mendes Pinto em sua Peregrinação: Era avistado nos mares misteriosos da Indochina e se chamava Caquesseitão. Tinha corpo gigantesco, carregado de compridos e terríveis espinhos, e agitava à flor das ondas um longo rabo como de lagarto.

Nosso Brasil, em seu amanhecer, possuía um bicharoco desses, muito digno de se comparar ao Caquessitão de Fernão Mendes Pinto e a quaisquer dos outros aqui anteriormente enumerados. Na penumbra das primeiras idades de todos os povos sempre se agitam formas larvares. Não podíamos escapar à regra geral. A espantosa notícia nos foi dada por dois graves e sisudos historiadores. Um forrado de saber teológico, frei Vicente do Salvador, o outro forrado de saber gramatical, Pero de Magalhães Gândavo.

Escreve o primeiro, textualmente, no capítulo 10 de sua História do Brasil: Na capitania de São Vicente, na era de 1564, numa noite saiu à praia um monstro marinho, o qual, visto por um mancebo chamado Baltasar Ferreira, filho do capitão, que se foi a ele com uma espada e o peixe, se levantando direito, como um homem, sobre as barbatanas do rabo, deu no mancebo uma estocada na barriga com a qual o derrubou e, se tornando a levantar, com a boca aberta pra o tragar, lhe deu um altabaixo15 na cabeça com o que o atordoou. Logo acudiram alguns escravos seus que o acabaram de o matar, ficando o mancebo desmaiado e quase morto, depois de haver tido tanto ânimo. Era este monstruoso peixe de 15 palmos de comprido [3,3m], não tinha escama senão pele, como se verá na figura seguinte.

Apesar desse se verá na figura seguinte, nenhum desenho do monstro acompanhava o manuscrito de frade custódio e não nos dá o nome do fabuloso animal marinho. Encontraremos, tanto esse nome como a estampa em que vem retratado, em História da província de Santa Cruz, de Pero de Magalhães Gândavo, edição de 1575, a primeira, 11 anos posterior ao aparecimento da besta, que foi em 1564.

Gândavo assim a descreveu: Era 15 palmos de comprido e semeado de cabelo no corpo. No focinho tinha cerdas muito grandes, como bigodes. Os índios da terra o chamam, em sua língua, Hipupiara,16 que quer dizer demônio dágua. Alguns como este já se viram nestas partes mas se acham raramente. E assim também deve haver outros muitos monstros, de diversos pareceres, que no abismo desse largo e espantoso mar se escondem...

Ao lado dessa descrição, a estampa do monstro sendo atacado a espada por Baltasar Ferreira, na praia de São Vicente: Hórrido aspecto antropomorfo e zoomorfo ao mesmo tempo. Decerto era essa mesma figura que frei Vicente do Salvador esqueceu de incluir em seu manuscrito, depois da haver citado. Nenhum outro documento iconográfico se conhece sobre ele em nossa história.

O rapaz que se diz ter atacado e matado a aterradora Hipupiara, segundo conta Pero de Magalhães Gândavo no capítulo 11 de sua obra já citada, de nome Baltasar Ferreira, era filho do capitão Jorge Ferreira, um dos companheiros de Martim Afonso de Souza na fundação de São Vicente. Se casara com a mameluca Joana, filha do misterioso taciturno e lendário João Ramalho, genro de Tibiriçá e um dos fundadores de São Paulo. Se encontra essa filiação em Nobiliarquia paulistana de Pedro Triques. Conta Hans Staden que um filho do mesmo Jorge Ferreira, quando este era capitão-mor de São Vicente, em 1556, fora morto e devorado a sua vista pelos índios. Não se sabe se era filho natural ou legitimo. Todavia não podia ser Baltasar Ferreira, pois este matou a Hipupiara em 1564, como depõem os historiadores a quem recorremos.

Como se vê, o matador do monstro marinho aparecido em São Vicente teve existência real e não é crível que a lenda do próprio monstro não se estribe num fato verdadeiro. As lendas são geralmente a fumaça ou as cinzas quentes da fogueira da história. Procurando uma explicação aceitável à Hipupiara, uma nota na introdução do terceiro volume da monumental História da colonização portuguesa do Brasil, aventa o seguinte: Se trata, muito provavelmente, dum exemplar do lamantino da América, vulgarmente conhecido por lobo-marinho ou leão-marinho, habitante da região antártica.

Difícil é se encontrar em tão reduzidas frases tantas cincadas em zoologia. O Lamantino, cetáceo herbívoro e fluvial, é um manatídeo. O da Flórida e do norte da América Meridional, que se chama, na Amazônia, peixe-boi, é o Manatus latirostris; o do sul do Brasil é o Manatus inunguis. O leão-marinho habita o oceano e não os rios como o peixe-boi. É uma otária, sendo que a espécie antártica se classifica como Otaria jubata ou cabeluda. Gândavo descreve a Hipupiara como semeada de cabelo.

Ora, nossos índios conheciam perfeitamente o Lamantino ou peixe-boi e não o tomariam por um bicho aterrador e fora do comum. Além disso, o episódio da Hipupiara se passou na costa do mar, onde os manatídeos não freqüentam. Quando muito seu aparecimento seria possível num estuário, com água ao menos salobra, o que não é o caso da praia de São Vicente. Assim, pra explicarmos racionalmente a presença daquele bicharoco no século 16 temos de admitir a hipótese plausível de se tratar dum verdadeiro leão-marinho, duma otária, Otaria jubata, dos mares do sul. Brehn, em sua Vida dos animais, disse que o leão-marinho, quando atacado, põe em fuga o homem mais corajoso, e o naturalista Steller, que lhe estudou os hábitos, conta que os canchadales tinham, em suas tribos, em alta estima os que já haviam matado um desses leões, por isso era prova da maior coragem.

Indicamos esta hipótese como plausível, porque é sabido que as correntes marinhas trazem e lançam sobre a costa meridional do Brasil, desde Rio Grande do Sul até São Paulo, cadáveres de pingüins e focas, entre os quais, às vezes, alguns exemplares vivos da fauna das regiões antárticas. Viajando no litoral, de Laguna a Torres, no Rio Grande, em 1935, vi, pessoalmente, dezenas desses cadáveres na praia do Soberbo. Nada há de extraordinário, portanto, na presença dum leão-marinho antártico vivo na de São Vicente.

Carlos Malheiro Dias aproveitou a luta de Baltasar Ferreira com a Hipupiara literariamente prum belo símbolo da colonização portuguesa do Brasil: Aquele adolescente São Jorge, prostrando com a espada o monstro que o arremete, é ainda o símbolo da vitória lusitana sobre o terror que emanava da terra virgem, das florestas obscuras e insondáveis, da ferocidade do arqueiro tatuado das selvas.

Gustavo Barroso
________________________________________________________________________
Fonte: "Segredos e revelações da história do Brasil", Gustavo Barroso - Edições O Cruzeiro - 2ª edição - Agosto de 1961.

quarta-feira, 28 de março de 2012

A Lenda da "Não se Pode"

O nosso folclore é muito pitoresco e variado, em qualquer parte do Estado, no campo ou na cidade, vive muito saudável na alma de nossa gente, em prosa, verso ou canção, diz o Prof. Joaquim Ribeiro Magalhães, e prossegue: “Teresina possui muito dessa maravilhosa e ingênua criação popular, impregnada de um misticismo salutar de cuja moral parte um grito de alerta aos incautos para que não duvidem de que as coisas há”... O “Cabeça de Cuia”, “A Porca do Dente de Ouro” e a “Não se Pode”, são as maiores fontes inspiradoras.

Desta última conta-se que, certa jovem sempre percorria nas horas caladas da noite, as ruas de Teresina, de preferência do Alto da Moderação à Praça Saraiva. Muito alta, sempre caminhando a passos lentos, ninguém conseguia acompanhá-la Muitos foram aqueles a quem hoje chamaríamos de “paqueras”, que, inutilmente tentaram interceptá-la, pois sempre desaparecia como que por encanto.

Certa vez, já noite alta, um boêmio que tantas vezes tentara conquistá-la, conseguiu que parasse na Praça Saraiva e pondo o braço na cintura daquela enorme mulher, pediu-lhe beijos, perguntou seu nome, onde morava e outras coisas. Ela respondia estas palavras: ‘não se pode’. O contumaz conquistador deu-lhe um cigarro que ela logo levou aos lábios. O seu corpo já agigantado começou a crescer mais ainda até chegar à altura do poste em cujo lampião de gás tocou o cigarro. Após soltar uma longa baforada, sua boca transformou-se em um enorme bico que veio roçar o rosto do rapaz. Com voz rouca e desafinada, falou: “me dá um beijo”.

O moço, apavorado, disparou a correr, mas a mulher estava sempre ao seu lado, soprando em suas faces um bafo de mau odor. O canto de um galo cortou o silêncio da noite. “Foi tua salvação” — disse a estranha figura, desaparecendo.

Do escritor Bugyja Brito, temos noticia de “Maria não se Pode” no Jornal “O COMETA”, de março de 1976. Afirma ele que essa estória já era conhecida desde 1845, em Oeiras.

A crendice popular é de fértil imaginação. Há quem afirme ter visto “Maria não se Pode” a poucos passos, de frente. É descrita como uma mulher alta e fina, uma espécie de vara pau. Traja vestido branco e longo, tão longo que arrasta pelo chão, de voz cavernosa que perambula nos lugares soturnos como os ermos das matas e que fala pedindo cigarros aos que andam nas caladas das noites.

Vários boêmios atestam que chegaram a manter conversação com a “Não se pode”, nestes ermos ou pontos da cidade, estrada do Carcará, Praça da Matriz, Rua do Tanguitá, Alto do Rosário e Ponte Grande. Aqueles que, vencendo o medo fazem--lhe perguntas recebem como resposta “não se pode”. 

Fonte: "Folclore Piauiense tem Lendas Fantásticas" - Angela Delouche - Jornal Universitário, Recife, abril 1977.

terça-feira, 27 de março de 2012

Esfinges


Esfinges são imagens icônicas de um leão estendido com a cabeça de um falcão ou de uma pessoa, inventadas pelos egípcios do império antigo, mas uma cultura importada da mitologia grega.

A esfinge egípcia é uma antiga criatura mística usualmente tida como um leão estendido — animal com associações solares sacras — com uma cabeça humana, usualmente a de um faraó. Também usada para demonstração de poder, assim como as pirâmides no Egito. Vistas como guardiãs na estatuária egípcia, esfinges são descritas em uma destas duas formas:

Androsfinge (Sphinco Andro)- corpo de leão com cabeça de pessoa; Hierocosfinge (Sphinco Oedipus Rex)- corpo de leão com cabeça de falcão.

A maior e mais famosa é Sesheps, a esfinge de Gizé, sita no planalto de Gizé no banco oeste do rio Nilo, feito em dois ao leste, com um pequeno templo entre suas patas. O rosto daquela esfinge é considerada como a cabeça do faraó Quéfren ou possivelmente a de seu irmão, o faraó Djedefré, que dataria sua construção da quarta dinastia (2723 a.C.–2563 a.C.). Contudo, há algumas teorias alternativas que redatam a esfinge ao pré-antigo império – e, de acordo com uma hipótese, a tempos pré-históricos.

Outras esfinges egípcias famosas incluem a esfinge de alabastro de Mênfis, hoje localizada dentro do museu ao ar livre naquele local; e as esfinges com cabeça de ovelha (em grego, criosfinges) representando o deus Amon, em Tebas, de que havia originalmente algumas novecentas.

Que nome ou nomes os construtores deram às estátuas é desconhecido. A inscrição em uma estela na esfinge de Gizé a data de mil anos após a esfinge ser esculpida, dá três nomes do sol: Kheperi - Re - Atum. O nome arábico da esfinge de Gizé, Abu al-Hôl, traduz como Pai do Terror. O nome grego esfinge foi aplicado a ela na antigüidade. Mas ela tem a cabeça de um homem, não de uma mulher.

Havia uma única esfinge na mitologia grega, um demônio exclusivo de destruição e má sorte, de acordo com Hesíodo uma filha da Quimera e de Ortro ou, de acordo com outros, de Tifão e de Equidna — todas destas figuras ctônicas. Ela era representada em pintura de vaso e baixos-relevos mais freqüentemente assentada ereta de preferência do que estendida, como um leão alado com uma cabeça de mulher; ou ela foi uma mulher com as patas, garras e peitos de um leão, uma cauda de serpente e asas de águia.

Hera ou Ares mandaram a esfinge de sua casa na Etiópia (os gregos lembraram a origem estrangeira da esfinge) para Tebas e, em Édipo Rei de Sófocles, pergunta a todos que passam o quebra-cabeça mais famoso da história, conhecido como o enigma da esfinge, decifra-me ou devoro-te: Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três? Ela estrangulava qualquer inábil a responder, dai a origem do nome esfinge, que deriva do grego sphingo, querendo dizer estrangular.

Édipo resolveu o quebra-cabeça: O homem — engatinha como bebê, anda sobre dois pés na idade adulta, e usa um arrimo (bengala) quando é ancião. Furiosa com tal resposta, a esfinge teria cometido suicídio, atirando-se de um precipício. Versão alternativa diz que ela devorou-se.

O quebra-cabeça exato perguntado pela esfinge não foi especificado por vários contadores da história e não foi estandartizado como o dado sobre até muito mais tarde na história grega. Assim Édipo pode ser reconhecido como um limiar ou figura de soldado de porta, ajudando efeito a transição entre as velhas práticas religiosas, representadas pela esfinge, e novas, unidade olímpica.

Fonte: Baseado na Wikipédia.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Dragão, um dos primeiros mitos

Criaturas presentes na mitologia dos mais diversos povos e civilizações, são representados como animais de grandes dimensões, normalmente semelhantes a imensos lagartos ou serpentes, muitas vezes com asas, plumas, poderes mágicos ou hálito de fogo. A palavra dragão é originária do termo grego drakôn, usado para definir grandes serpentes.

Em vários mitos eles são apresentados literalmente como grandes serpentes, como eram inclusive a maioria dos primeiros dragões mitológicos, e em suas formações quiméricas mais comuns. A variedade de dragões existentes em histórias e mitos é enorme, abrangendo criaturas bem mais diversificadas.

Apesar de serem presença comum no folclore de povos tão distantes como chineses ou europeus, os dragões assumem, em cada cultura, uma função e uma simbologia diferentes, podendo ser fontes sobrenaturais de sabedoria e força, ou simplesmente feras destruidoras.

Muito se discute a respeito do que poderia ter dado origem aos mitos sobre dragões em diversos lugares do mundo. Em geral, acredita-se que possam ter surgido da observação pelos povos antigos de fósseis de dinossauros e outras grandes criaturas, como baleias, crocodilos ou rinocerontes, tomados por eles como ossos de dragões.

Por terem formas relativamente grande, geralmente, é comum que estas criaturas apareçam como adversários mitológicos de heróis lendários ou deuses em grandes épicos que eram contados pelos povos antigos, mas esta não é a situação em todos os mitos onde estão presentes. É comum também que sejam responsáveis por diversas tarefas míticas, como a sustentação do mundo ou o controle de fenômenos climáticos. Em qualquer forma, e em qualquer papel mítico, no entanto, os dragões estão presentes em milhares de culturas ao redor do mundo.

As mais antigas representações mitológicas de criaturas consideradas como dragões são datadas de aproximadamente 40.000 a. C., em pinturas rupestres de aborígines pré-históricos na Austrália. Pelo que se sabe a respeito, comparando com mitos semelhantes de povos mais contemporâneos, já que não há registro escrito a respeito, tais dragões provavelmente eram reverenciados como deuses, responsáveis pela criação do mundo, e eram vistos de forma positiva pelo povo.

A imagem mais conhecida dos dragões é a oriunda das lendas europeias (celta / escandinava / germânica) mas a figura é recorrente em quase todas as civilizações antigas. Talvez o dragão seja um símbolo chave das crenças primitivas, como os fantasmas, zumbis e outras criaturas que são recorrentes em vários mitos de civilizações sem qualquer conexão entre si.

Há a presença de mitos sobre dragões em diversas outras culturas ao redor do planeta, dos dragões com formas de serpentes e crocodilos da Índia até as serpentes emplumadas adoradas como deuses pelos astecas, passando pelos grandes lagartos da Polinésia e por diversos outros, variando enormemente em formas, tamanhos e significados.

O escritor grego Filóstrato, dedicou uma extensa passagem da sua obra Vida de Apolônio de Tiana aos dragões da Índia (livro III, capítulos VI, VII e VIII). Forneceu informações muito detalhadas sobre esses dragões.

Dragões no Oriente

No Médio Oriente os dragões eram vistos geralmente como encarnações do mal. A mitologia persa cita vários dragões como Azi Dahaka que atemorizava os homens, roubava seu gado e destruía florestas. Os dragões da cultura persa, de onde aparentemente se originou a ideia de grandes tesouros guardados por eles e que poderiam ser tomados por aqueles que o derrotassem, hoje tema tão comum em histórias fantásticas.

Na antiga Mesopotâmia também havia essa associação de dragões com o mal e o caos. Os dragões dos mitos sumérios, por exemplo, frequentemente cometiam grandes crimes, e por isso acabavam punidos pelos deuses — como Zu, um deus-dragão sumeriano das tempestades, que em certa ocasião teria roubado as pedras onde estavam escritas as leis do universo, e por tal crime acabou sendo morto pelo deus-sol Ninurta. E no Enuma Elish, épico babilônico que conta a criação do mundo, também há uma forte presença de dragões.

Na China, a presença de dragões na cultura é anterior mesmo à linguagem escrita e persiste até os dias de hoje, quando o dragão é considerado um símbolo nacional chinês. Na cultura chinesa antiga, os dragões possuíam um importante papel na previsão climática, pois eram considerados como os responsáveis pelas chuvas. Assim, era comum associar os dragões com a água e com a fertilidade nos campos, criando uma imagem bastante positiva para eles, mesmo que ainda fossem capazes de causar muita destruição quando enfurecidos, criando grandes tempestades.

Dragões na Bíblia

Os dragões segundo a cultura cristã, são aqueles que mais influenciaram a nossa visão contemporânea dos dragões. Muito da visão dos cristãos a respeito de dragões é herdado das culturas do médio oriente e do ocidente antigo, como uma relação bastante forte entre os conceitos de dragão e serpente (muitos dragões da cultura cristã são vistos como simples serpentes aladas, as vezes também com patas), e a associação dos mesmos com o mal e o caos.

De acordo com o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, no Antigo Testamento, dragões tipificam os inimigos do povo de Deus, como em Ezequiel 29:3. Ao fazer isso, associa-se a ideia das mitologias de povos próximos, para dar maior entendimento aos israelitas. É por isso que a Septuaginta, na sua narrativa da história de Moisés, traduz "serpente" por "dragão". (Êxodo 7:9-12).

Há ainda, no antigo testamento, no Livro de Jó 41:10-21, a seguinte descrição do Leviatã: 18 Os seus espirros fazem resplandecer a luz, e os seus olhos são como as pestanas da alva; 19 Da sua boca saem tochas; faíscas de fogo saltam dela; 20 Dos seus narizes procede fumaça, como de uma panela que ferve, e de juncos que ardem; 21 O seu hálito faz incender os carvões, e da sua boca sai uma chama.

Em Isaías 30:6, há citado um "áspide ardente voador", junto com outros animais, para ilustrar a terra para onde os israelitas serão levados, pois o contexto do capítulo é sobre a repreensão deles. No Novo Testamento, acha-se apenas no Apocalipse de São João, utilizado como símbolo de satanás.

O Leviatã, a serpente/crocodilo cuspidora de fumaça do livro de Jó, também é considerado um dragão bíblico, embora não seja apresentado como um ser maligno e sim como uma criação de YHWH (Jeová, nome de Deus). Os dragões nas histórias da cristandade acabaram por adotar esta imagem de maldade e crueldade, sendo como representações do mal e da destruição.

O caso do mais célebre dragão cristão é aquele que foi morto por São Jorge, que se banqueteava com jovens virgens até ser derrotado pelo cavaleiro. Esta história também acabou dando origem a outro clássico tema de histórias de fantasia: o nobre cavaleiro que enfrenta um vil dragão para salvar uma princesa.

Dragões na América pre-colombiana

Os dragões aparecem mais raramente nos mitos dos nativos americanos, mas existem registros históricos da crença em criaturas "draconídeas".

Um dos principais deuses das civilizações do golfo do México era Quetzalcoatl, uma serpente alada. Nos mitos da tribo Chincha do Peru, Mama Pacha, a deusa que zelava pela colheita e plantio, era às vezes descrita como um dragão que causava terremotos.

O mítico primeiro chefe da tribo Apache (que, segundo a lenda, chamava-se Apache ele próprio) duelou com um dragão usando arco e flecha. O dragão da lenda usava como arco um enorme pinheiro torcido para disparar árvores jovens como flechas. Disparou quatro flechas contra o jovem, que conseguiu se desviar de todas. Em seguida foi alvejado por quatro flechas de Apache e morreu.

No folclore brasileiro existe o Boitatá, uma cobra gigantesca que cospe fogo e defende as matas daqueles que as incendeiam.

Dragões nas lendas européias

No ocidente, em geral, predomina a idéia de dragão como um ser maligno e caótico, mesmo que não seja necessariamente esta a situação de todos eles. Nos mitos europeus a figura do dragão aparece constantemente, mas na maior parte das vezes é descrito como mera besta irracional, em detrimento do papel divino/demoníaco que recebia no oriente.

A visão negativa de dragões é bem representada na lenda nórdica ou germânica de Siegfried e Fafnir, em que o anão Fafnir acaba se transformando em um dragão justamente por sua ganância e cobiça durante sua batalha final contra o herói Siegfried.

Serpentes marinhas como Jormungand, da mitologia nórdica, era o pesadelo do Vikings; por outro lado, a proa de seus navios eram entalhadas com um dragão para espantá-lo.

Na mitologia grega, também é comum ver os dragões como adversários mitológicos de grandes heróis, como Hércules ou Perseu. De acordo com uma lenda da mitologia grega, o herói Cadmo mata um dragão que havia devorado seus liderados. Em seguida, a deusa Atena apareceu no local e aconselhou Cadmo a extrair e enterrar os dentes do dragão. Os dentes "semeados" deram origem a gigantes, que ajudaram Cadmo a fundar a cidade de Tebas.

Sláine, Cuchulainn e diversos outros heróis celtas enfrentaram dragões nos relatos dos seus povos.

Durante a Idade Média as histórias sobre batalhas contra dragões eram numerosas. A existência dessas criaturas era tida como inquestionável, e seu aspecto e hábitos eram descritos em detalhes nos bestiários da Igreja Católica. Segundo os relatos tradicionais, São Jorge teria matado um dragão.

Fonte: Baeado em texto da Wikipédia.

Troll

Os trolls são criaturas antropomórficas do folclore escandinavo. Poderiam ser tanto como gigantes horrendos – como ogros – ou como pequenas criaturas semelhantes a goblins (duendes). Viviam em cavernas ou grutas subterrâneas. Na literatura nórdica, apareceram com várias formas, e uma das mais famosas teria orelhas e nariz enormes. Nesses contos também lhes foram atribuídas várias características, como a transformação dessas criaturas em pedra, quando expostas à luz solar.

Se você já teve oportunidade de conhecer a Noruega, certamente deve se lembrar dos trolls. Lá, essas criaturas lendárias, de olhos pequenos e orelhas e nariz grandes, dão nome a cidades, ruas, florestas e montanhas. Mas ela está presente no folclore dos países nórdicos. Existem duas espécies de trolls:

Trolls gigantes: grandes, brutos, feios e com características bestiais, como dentes enormes e olhos ciclópicos. O cabelo é um tufo que nenhum pente consegue dar jeito.

Trolls pequenos: de aparência e tamanho de um humano, vestem-se normalmente, mas sob a roupa, escondem um rabo. São seres sociais, que vivem em comunidades, só que nas florestas. Cozinham, são excelentes artesãos e preparam grandes banquetes. Vivem em complexos subterrâneos, cujo acesso fica sob grandes rochas na floresta ou em montanhas.

Não se sabe ao certo se os trolls são bons ou maus. Quem já topou com um deles costuma dizer que eles tratam as pessoas da mesma forma como são tratados. Mas todos afirmam que os trolls são grandes ladrões, que roubam a comida armazenada pelos fazendeiros da região.

Diz a lenda que os trolls também costumam abduzir pessoas e transformá-las em escravos. Quando se cansam do brinquedo, alguns anos depois, liberam o abduzido sem memória alguma do cativeiro.

Sinos de igreja, cruzes ou mesmo palavras como Jesus ou Cristo são excelentes armas contra os trolls. Segundo a mitologia nórdica, os trolls foram caçados pelo deus Thor, que usou seu martelo miolnir para provocar uma tempestade de raios que teria matado a maior parte deles.

No folclore sueco, os trolls levam a culpa por má sorte, por acidentes ou por coisas que acontecem de errado. Quando algo dá errado ou quando um projeto emperra, os suecos costuma dizer: "Parece que há um troll andando aqui".

Essa crença de que os trolls não estão associadas a coisas boas, acabou levando a criatura para histórias como "O Senhor dos Anéis", de J.R. Tolkien (eles aparecem em "A Sociedade do Anel", na caverna dos anões), e "Harry Potter e a Pedra Filosofal" (aqui eles são descritos como criaturas enormes em tamanho e estupidez, altamente violentas).

Fontes: Max Mega Curiosidades; Wikipédia.

Leviatã

Leviatã (ou Leviathan) deriva do hebraico "liwyatan" e é o nome de um mostro marinho cuja origem remonta à mitologia fenícia. Aparece também mencionado na Bíblia como um ser que causa catástrofes e possui várias formas: pode ser dotado de muitas cabeças (conforme um selo encontrado em Tell Asmar, que o apresenta com sete cabeças), similar a um crocodilo (outro significado da palavra "liwyatan" que aparece na Bíblia), a uma baleia ou a uma serpente.

Estas formas são mencionadas pelos Evangelhos apócrifos, que inserem o Leviatã entre os cetáceos criados por Deus no quinto dia da criação. De acordo com as mesmas obras apócrifas, a única razão para o Leviatã ser mantido com vida era a de que serviria de alimento aos bem-aventurados.

Segundo a tradição, o Leviatã vivia nas profundezas do mar, e foi, como consequência, ligado à conceção de inferno vivo. Esta associação encontra-se, por exemplo, presente no chamado Evangelho de Bartolomeu (apócrifo).

Como representação do Mal, aparece frequentemente como um dragão dotado de muitas cabeças criado por Deus para demonstrar o Seu poder supremo, que tudo cria e tudo vence, e acaba por ser derrotado por Javé (Salmos), depois do Leviatã se revoltar contra Ele juntamente com o mar que é considerado o seu meio ambiente, conforme o que acima foi dito. Os anjos que se revoltaram contra Deus foram também engolidos por Leviatã, segundo reza a tradição da Ars Moriendi.

A conotação maléfica, de presságios funestos, e a configuração de serpente marítima (ou dragão do mar) escorregadia e enrolada sobre si mesma que se evidenciam na Bíblia encontravam-se já nos escritos de Ugarit, referentes à mitologia fenícia, e neles se conta que o Leviatã combateu o deus Mot, senhor da morte e das secas, acabando por perecer sob a espada de um servo do deus Baal.

Fonte: Infopédia.

domingo, 25 de março de 2012

O enigma de Stonehenge

Na planície de Salisbury, sul da Inglaterra, se ergue o estranho e indecifrável complexo monolítico chamado Stonehenge, um enigma tão grande quanto ao das pirâmides. É o monumento pré-histórico mais importante da Inglaterra e não há nada semelhante à ele em todo o mundo. Este altar de pedras é usado há 5.000 anos e até hoje não se tem certeza de sua finalidade. Rituais druidas, cerimônias em homenagem ao sol, ou portal para seres de outros planetas?

Os saxões chamavam ao grupo de pedras erectas "Stonehenge" ou "Hanging Stones" ( pedras suspensas), enquanto os escritores medievais se lhes referem como "Dança de Gigantes".

As “pedras azuis” usadas para construir Stonehenge foram trazidas de até 400 km de distância, nas montanhas de Gales, com direito a travessia marítima, quando não faltavam pedreiras na vizinhança. Algumas pesam 50 toneladas e tem 5 metros de altura. Se alguém traçar uma linha no chão, passando no meio do círculo formado pelas pedras, vai ver que esta linha aponta para a posição do nascer do sol de verão.

A mais antiga referência ao monumento, supõe-se, é a que faz o grego Hecateu de Abdera na sua "História dos Hiperbóreos", datada de 350 a.C. : "ergue-se um templo notável, de forma circular, dedicado a Apolo, Deus do Sol..."

O monumento é um exemplo clássico das civilizações megalíticas. Cientistas afirmam que Stonehenge foi construído entre os anos 2800 e 1100 a . C., em três fases separadas:

1ª Fase : (Morro Circular), que conhecemos como o círculo externo de Stonehenge e dos três círculos de buracos, cinqüenta e seis ao todo, que cercam o monumento. As quatro "pedras de estação" que se supõe terem sido utilizadas como um Observatório Astronômico, o objetivo aparente seria observar o nascer e o por do Sol e da Lua, visando elaborar um calendário de estações do ano. 

2ª Fase : que iniciou em 2100 a . C., houve a construção do duplo círculo de pedras, em posição vertical no centro do monumento, bem como da larga avenida que leva a Stonehenge e da margem externa das planícies cobertas de grama que o rodeiam.

Na Terceira e última fase, o duplo círculo de pedras foi separado e reconstruído, sendo erguidos muitos dos trílitos.

Originalmente Stonehenge era um círculo externo media 86 m de diâmetro. O círculo interno,com as pedras maiores, media 30 m. Havia ainda uma avenida de acesso principal onde ficavam os portais de pedra, marcando o alinhamento do sol e os ciclos da lua. Analisando-se as pedras viu-se que elas foram cortadas para encaixar exatamente uma na outra, o que é incrível, já que na época não existiam ferramentas de construção com esta precisão.

Ao meditar sobre os mistérios de Stonehenge, vale lembrar que, naquela época, diferentes tribos e autoridades contribuíram para a construção de Stonehenge. Cada um pode ter tido objetivos diferentes para construir o monumento.

Alguns relatos históricos contam que os druidas, sacerdotes celtas, de uma tribo que habitou a região da Inglaterra durante o império Romano fizeram cerimônias aqui, mas é certo que não foram eles que construíram Stonehenge, pois o monumento já existia quando os druidas chegaram à Inglaterra, a datação pelo carbono-14 prova isto. Eles apenas herdaram a tradição, costumes e rituais dos primeiros moradores deste lugar.

Acredita-se que Stonehenge e outros sítios megalíticos hajam sido construídos pelos antepassados dos Druidas deste milênio, por acreditarem que fossem lugares de grande força para concretizarem seus rituais...em vez de templos fechados eles reuniam-se nos círculos de pedra, como se vêem nas ruínas de Stonehenge Avebury, Silbury Hill e outros.

Durante séculos, Stonehenge foi cenário de reuniões de camponeses e nos últimos 90 anos os "druidas" modernos celebraram aqui o solstício de Verão. Durante aproximadamente 20 anos, milhares de pessoas se reuniam no local todos os meses de junho para assistirem ao festival que aí tem lugar. Mas em 1985 as autoridades proibiram tanto a vinda dos druidas como o festival em si, receosas de que as pedras, assim como a paisagem circundante, possam ser danificadas

Diversas pedras de Stonehenge tem desenhos ou inscrições feitas pelas antigas civilizações, embora já estejam bastante apagadas pelo tempo. Como o local não fica longe de Londres, há diversas excursões de um dia que vão até lá.

O fim de Stonehenge aconteceu por volta do ano 1.600 AC. Foi a partir daí que começou sua destruição. Apesar do tamanho enorme, muitas das pedras desapareceram. As menores foram carregadas por visitantes que queriam levar uma "lembrança". A partir de 1918 o local começou a ser recuperado, e muitas das grande pedras que estavam inclinadas e ameaçando tombar foram reerguidas. Atualmente, o lugar é administrado pelo English Heritage, e como o número de visitantes é de cerca de 700.000 por ano, foram tomadas medidas mais rigorosas para garantir a preservação de Stonehenge.

Ao redor do monumento principal existem outras obras intrigantes. Afastado de Stonehenge, 800 m ao norte está o chamado Cursum. Semelhante à uma pista reta de corridas de cavalos, com 2,8 km de comprimento e 90 m de largura, imagina-se que ele também era usado em cerimoniais religiosos e procissões. Alguns adeptos do estudo dos OVNI afirmam entretanto que seu objetivo era servir como pista de pouso para naves interplanetárias.

Depois da visita à Stonehenge, ficam muitas dúvidas, algumas suposições, e poucas certezas. Porque trouxeram pedras tão imensas e pesadas de tão longe, exatamente para aquele lugar? Quem de fato construiu o monumento e porque? Sozinhos ou tiveram ajuda de alguma outra civilização? Que civilizações eram estas, que já na pré-história tinham conhecimentos tão profundos de astronomia, engenharia, e matemática? Teria sido Stonehenge realmente construído com ajuda de povos vindos de outros planetas, ou isto tudo não passa de ficção?

Fonte: Revista Turismo.

Os Druidas

Os druidas formavam a classe de sacerdotes entre os celtas, povo originário da Europa oriental que, no primeiro milênio a.C., se espalhou por quase todo o continente, até a Grã-Bretanha. "Os druidas eram considerados intermediários entre os homens e os deuses e atuavam também como juízes, magos e professores", afirma Pedro Paulo Funari, professor de História e Arqueologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

"Como os celtas não deixaram obras escritas - apenas inscrições em objetos como taças e moedas - o que sabemos sobre eles vem de relatos dos romanos, surpresos com o fato de os druidas serem sacerdotes em tempo integral - pois em Roma essa função era acumulada por políticos, generais e magistrados", diz o historiador.

A principal fonte sobre os druidas é o próprio imperador Júlio César, que conta que eles tinham o privilégio de não pagar impostos e nem servir ao exército. Seus rituais incluíam sacrifícios humanos e, principalmente, o culto à natureza, toda ela considerada encantada por espíritos das árvores, bosques, lagos, fontes, cachoeiras e animais.

O druida (druid), na religião dos antigos povos celtas, era a pessoa que exercia as funções de sacerdote, poeta, juiz e legislador. Etimologicamente, a palavra druida deriva do gaulês dru-(u)id, que tinha o sentido de 'dono da ciência' ou 'muito sábio' entre os gauleses, povo pertencente ao tronco celta situado principalmente nos territórios das atuais, França, Bélgica e Luxemburgo a partir do ano 1000 a.C., aproximadamente. 

O historiador romano Plínio o Velho, entretanto, relacionou etimologicamente a voz druida com o nome grego drãj 'carvalho', certamente pela importância que nos cultos religiosos druídicos tinham esta e outras árvores.Os druidas desempenhavam várias funções, eram sacerdotes, bardos, poetas e magos sem distinções como os historiadores gregos pensavam, inclusive Lucano.

Os druidas mais famosos da história, presentes em todas as sociedades celtas, foram os estabelecidos nas Gálias e nas Ilhas Britânicas, onde eram os depositários de toda a tradição oral dos povos celtas.

Sua crença principal era a imortalidade do ser, visto que seus mortos continuavam vivendo em outro mundo, identificado como subterrâneo, onde o morto acompanhava seus deuses; os enterros celtas não eram diferentes. O corpo do morto era enterrado com todo tipo de objetos cotidianos, pois seu uso continuaria para sempre.

Apesar de sua elevada posição social, a estrutura social dos povos celtas fez com que participassem de todos os trabalhos da comunidade, tanto nos agrícolas como nas campanhas militares, embora sua principal ocupação era a educação dos jovens, a arbitragem nos litígios ocorridos entre as diversas tribos e a celebração dos diferentes ritos religiosos (especialmente os sacrifícios).

O hermetismo destes ritos, assim como seu caráter oral, fazia com que a capacidade mais admirada pelos druidas fosse sua memória, por isso seus sucessores na tribo deviam se destacar desde jovens nesse sentido, além de jurar honrar sempre aos deuses (o conhecimento era secreto), não obrar imprudentemente e estar sempre disponíveis para os serviços que demandasse a comunidade.

A vida cotidiana de um druida estava apoiada na estrita subserviência a estas regras e na observação da natureza, onde descobriram os usos medicinais; o respeito pelos bosques como lugares sagrados era outra de suas ocupações, para o qual contaram com o apoio da aristocracia militar das comunidades celtas.

São muito escassos os escritos sobre antigos gauleses, a maioria dos textos foi escrita em grego, embora alguns deles tenha relação direta com as atividades druídicas. Segundo estudiosos, os druidas não tinham livros sagrados, pois transmitiam sua doutrina e sua sabedoria de forma oral.

De acordo com registros, em 1971 foi encontrado um texto em doze linhas de uma oração a uma divindade desconhecida inscrita em uma prancha de chumbo na fonte de Chamalières, perto de Clermont-Ferrand (França). Em 1983, encontrou-se na aldeia do Veyssière (Aveyron, França), o chamado Chumbo do Larzak, de 57 linhas, inscrito uma mensagem para o outro mundo que devia levar até ali uma druidesa morta.

Muito importante também é o chamado Calendário de Coligny, encontrado no final do século XIX, gravado em uma prancha de bronze de quase um metro e meio de comprimento e 80 centímetros de largura, fonte da fé dos profundos conhecimentos astronômicos desses sacerdotes.

Até o momento, tudo o que conhecemos sobre os cultos e as atividades druídicas, devemos aos historiadores gregos e, sobre tudo, latinos, cuja visão sabemos que às vezes estava muito deformada pela hostilidade entre o povo romano e o gálico. Por outro lado, têm-se muitos mais dados a respeito dos druidas e, em geral, dos povos gálicos assentados na área continental que nas Ilhas Britânicas, já que o contato mantido pelos romanos com os galos foi muito mais contínuo e intenso.

Uma das mais importantes fontes históricas para o conhecimento das atividades druídicas é o tratado historiográfico De Belo Gallico 'Da guerra das Gálias', de Júlio César, quem afirmou que os druidas constituíam uma espécie de casta de iniciados que deviam receber uma formação esotérica, muito rigorosa e prolongada, nas Ilhas Britânicas.

César também assinala que os druidas se encarregavam de presidir todos os sacrifícios públicos e privados, as atividades religiosas e, as que se estendiam as suas funções aos âmbitos político e judicial, já que eram eles os encarregados de impor sentenças e castigos judiciais.

Um druida era, segundo César, um homem considerado sábio, conhecedor dos segredos da astronomia, a geografia e da natureza, além dos religiosos, e que ostentava um prestígio máximo dentro de sua comunidade, o que lhe permitia estar isento de pagar tributos e de praticar o serviço militar.

Alguns dos dados contribuídos por César sobre o conteúdo da religião druídica são especialmente interessantes; por exemplo, quando afirma que "os druidas ensinam a doutrina segundo a qual a alma não morre, mas sim depois da morte passa de um a outro", em clara referência à doutrina da metempsicose ou transmigração das almas.

O sistema religioso galo druídico devia ser muito complexo e poderoso, já que o mesmo Suetônio o chamou "religião druida", é de nossa sabedoria que alguns de seus cultos exerceram grande fascinação e inclusive influíram e impregnaram em alguns cultos romanos. Entre as funções do druida, tinha em especial relevância à preparação e presidência de todos os sacrifícios.

O geógrafo grego Estrabão, nascido na Ásia Menor, estudou em Roma, viajou por diversos países e escreveu um tratado de Geografia em dezessete livros que chegou até nós praticamente na íntegra; afirmava que os druidas faziam sacrifícios humanos cujas vítimas eram homens consagrados, embora nenhum indivíduo pertencente à casta druídica podia ser sacrificado. Os sacrifícios humanos estavam estreitamente relacionados com a adivinhação.

Plínio o Velho, autor e naturalista clássico, escreveu Naturalis Historia, um vasto compêndio das ciências antigas distribuído em 37 livros em 77 d.C., recordava que "terminados os preparativos necessários para o sacrifício e o banquete sob a árvore (um carvalho), levam ali dois touros brancos".

Sabe-se, além disso, que entre os conhecimentos transmitidos de forma oral e esotérica pelos druidas estavam os relativos à magia, ao uso de ervas, cabelos e águas medicinais e a determinação de dias fastos e nefastos, etc.

Este tipo de conhecimento druídico, afirmava alguns historiadores antigos, se relaciona também com as rituais pitagóricos gregos.

De acordo com estudiosos, a autoridade do druida estava muitas vezes acima da autoridade do rei, com o qual os sacerdotes druidas desempenhavam um papel importante, a primeira palavra era sempre a deles, e nas eleições, eram os druidas que regulamentavam e orientavam. Sacerdotes druidas de maior prestígio podiam converter-se eles mesmos em reis. Sabe-se que o druida Mog Ruith foi chamado pelos gauleses ou galos do Munster, ofereceram-lhe grandes recompensas, mas Mog Ruith recusou a realeza.

O druida, além de desempenhar normalmente as funções de juiz penal e de juiz legislador, podia exercer também em muitas ocasiões o papel de árbitro de qualquer questão política ou conflito interno que tivesse lugar dentro da comunidade, e inclusive de mediador entre várias comunidades.

Em alguns lugares chegaram a fundar centros de culto druídico de especial relevância, como o santuário britânico de Anglesey, cuja destruição ocorreu no século I d.C. pelo exército romano, descreveu Tácito.

Existem notícias, embora muito escassas e confusas, a respeito da existência de druidesas (ou druidas femininas).

Há dados, por exemplo, de uma comunidade de sacerdotisas femininas que Pomponius Mela localizou em Sena, à beira do Mar Britânico: conforme parece, estava formada por nove sacerdotisas virgens especializadas em profetizar o futuro e realizar curas mágicas, mas também em provocar tempestades e em transformar pessoas em animais, ações deste tipo contribuíram para associarem as druidesas às bruxas.

É possível que ecos destes cultos druídicos femininos sobrevivessem, por exemplo, nos ritos realizados pelas monjas do monastério irlandês do Kildare, que mantinham um fogo perpétuo em honra da Santa Brígida, Santa cristã, continuação de uma antiga divindade indo-européia.

Os druidas combateram com feroz resistência à dominação romana da Gália, mesmo com a união de todas as tribos celtas, a vitória de Júlio César (52 a.C.) foi inevitável, e segundo estudiosos, eliminou a civilização celta.

A cultura e a religião druídica mantiveram quase plenamente sua vitalidade até que foram progressivamente marginalizadas e perseguidas.

O cristianismo fez todo o possível para erradicar qualquer tipo de culto religioso pagão, apesar de esquecer de erradicar também a sua influência, especialmente no terreno da religiosidade popular, pois muitas das crenças mágicas antigas ainda sobrevivem, modificando apenas os seus nomes.

Além disso, aceitou a continuidade da figura do antigo bardo ou poeta, que após, e durante boa parte da Idade Média, seguiu sendo o depositário da memória oral e do patrimônio poético dos povos de ascendência celta.

Fato é que a influência dos druidas deve ter sido considerável, pois três imperadores romanos tentaram extinguí-los por decreto como classe sacerdotal num prazo de 50 anos - sem sucesso. O primeiro foi Augusto, que impediu os druidas de obter a cidadania romana.

Em seguida, Tibério baixou um decreto proibindo os druidas de exercerem suas atividades e finalmente Cláudio, em 54 d.C., extinguiu a classe sacerdotal. Certo mesmo é que, 300 anos mais tarde, os druidas ainda continuavam a ser citados por autores como Ausonio, Amiano Marcelino e Cirilo de Alexandria, como uma classe social e religiosa de extrema importância e respeitabilidade.

A partir do século XVI vieram à luz diversas correntes de pensamento religioso que tentaram restaurar as antigas crenças e ritos druídicos e opô-los à ortodoxia cristã dominante. Estas seitas neodruídicas têm um fundo ideológico apegado à magia natural e ao culto panteísta à natureza, e conta com comunidades como a Druid Order 'Ordem Druida', fundada em 1717, que se mantém viva até a atualidade.

Outros nomes deste tipo de seitas são os de Antiga Ordem dos Druidas, Confraternidade Filosófica dos Druidas, Ordem Druida, Fraternidade dos Druidas, Bardos e Poetas ou Igreja Celta Renovada.

Atualmente, esses tipos de movimentos religiosos se acham em pleno processo de expansão, devido à decepção de muitas pessoas diante das religiões tradicionais, à tendência ao retorno a formas de pensamento e de mística naturalista, e ao renovado auge do celtismo e de sua estética musical e cultural.

(Compilado e Traduzido por Luciana Bocchetti)
_______________________________________________________________________
Fontes: www.misteriosantigos.com in "Enciclopedia Universal Micronet - © Micronet 1998, Octubre 1998; The Druid. - Bill Worthington Salmer - Nick Beale, 1995 - James Alexander, 1995; The Druidess. – LaRoche".

Flamel, o Alquimista

Nicolas Flamel
Nicolas Flamel (Pontoise, França, 1330 ou 1340 — Paris, 22 de março de 1418) foi um escrivão, copista e vendedor de sucesso francês que ganhou fama de alquimista após seus supostos trabalhos na criação do Elixir da Longa Vida e da Pedra Filosofal, que segundo a lenda, teria fabricado e realizado a transmutação de metais em ouro por meio de um livro misterioso. No início de sua juventude, após a perda dos pais, foi à Paris trabalhar e casou-se com a viúva Dame Perenelle. Também é conhecido, em português, como Nicolau Flamel.

Seu contato com a alquimia se inicia em torno de 1370 quando, então aos quarenta anos de idade e proprietário de uma livraria, Flamel sonha com um anjo lhe entregando um livro misterioso. Pouco tempo depois, um homem desconhecido entra em sua livraria e oferece-lhe um antigo manuscrito. Flamel identificou aquele livro como o que lhe fora entregue pelo anjo durante o sonho e comprou-o imediatamente.

Segundo sua própria citação: "Quando faleceram meus pais tive que ganhar o pão escrevendo; naquele tempo adquiri um livro dourado, muito velho e volumoso. O livro compunha-se de três fascículos de sete folhas cada um e a sétima folha de cada um aparecia em branco. Na primeira folha via-se um báculo em torno do qual apareciam enroscadas duas serpentes; na segunda, uma cruz da qual pendia outra serpente e na sétima podia ver-se um deserto, no centro do qual brotavam formosas fontes; porém delas não saiam água senão serpentes que se arrastavam em todas as direções".

A iniciação é narrada pelo próprio Flamel com as seguintes palavras: "Todavia trabalhei uns três anos, até que finalmente encontrei o elixir (havia trabalhado 21 anos) que imediatamente se reconhece por seu forte odor. Primeiro o projetei sobre uma libra e meia de mercúrio e obtive desse modo igual quantidade de prata; isso ocorreu em minha casa, estando presente unicamente minha esposa Perenelle; mais tarde, atendo-me escrupulosamente a cada palavra de meu livro, projetei a pedra vermelha sobre uma quantidade quase igual de mercúrio na mesma casa e de novo estava presente minha esposa Perenelle. Realizei a obra por três vezes com a ajuda de Perenelle, pois como havia-me ajudado no trabalho, o entendia exatamente como eu"

Ainda sobre o enigmático escrito, Flamel cita que constava o método de transmutação de metais. Ilustrando esta técnica, havia a representação de dois recipientes e da Pedra Filosofal. Uma menção mais consistente, porém, tão misteriosa diz que "Um rosal florido no meio do jardim; no solo junto às rosas uma fonte da qual emanava água branquíssima, que logo a uma distância respeitável precipitava-se num abismo. Muitas pessoas cavavam ao longo de seu curso, com as mãos na terra, tratando de encontrar a fonte, porém não conseguiam êxito porque eram cegas; somente um foi capaz – ele encontrou a água".

Buscando orientação, Flamel produz cópias de alguns trechos e símbolos do misterioso livro e parte para a Espanha, em peregrinação ao sepulcro de São Thiago. Lá, com a ajuda de um sábio judeu conhecido por Mestre Canches, consegue decifrar algumas passagens e concluir que se tratava de textos e representações gráficas sobre Cabala e Alquimia, incluindo ainda uma fórmula para elaboração da Pedra Filosofal. Sendo, aparentemente, da autoria de Abraão – O Judeu.

Canches ainda tentou acompanhar Flamel de volta à França para dar continuidade aos trabalhos de tradução e interpretação do manuscrito. No entanto, devido à idade avançada e à saúde debilitada, faleceu antes de concluir a viagem.

O alquimista teria compreendido o sentido dos processos alquímicos, mas não havia elucidado totalmente as matérias componentes. O completo entendimento só foi possível com o auxílio de Perenelle; fato que pode aludir à necessidade da presença feminina para o total desenvolvimento da técnica e obtenção da "Grande Obra".

Nos anos seguintes, desenvolve as técnicas de transmutação de metais em prata e ouro. Assim, torna-se possível dedicar-se às atividades filantrópicas como a construção de hospitais, abrigos e cemitérios nos quais, ocultos na ornamentação arquitetônica, encontram-se diversos símbolos alquímicos. Porém, não há registros de que, em momento algum, Flamel e Perenelle tenham usado as técnicas aprendidas ou os resultados obtidos para benefício próprio.

Um fato interessante é que o alquimista, talvez motivado por uma certa vaidade, sempre que uma capela, hospital, cemitério ou abrigo fosse concluído, encomendava a um escultor que representasse sua figura em duas situações distintas: uma jovial e uma outra já com aparência envelhecida e debilitada. Essa duas esculturas eram postas em locais de destaque como parte da decoração.

Conta-se que Flamel e sua esposa Perenelle, mesmo com o passar dos anos, desfrutavam de uma saúde surpreendentemente vigorosa. A este fato atribuí-se à supostas fórmulas (como o elixir da juventude) que teria desenvolvido. Flamel passou os últimos dias de sua vida fazendo anotações sobre alquimia. Faleceu em 22 de março de 1418 e sua lápide, que havia sido encomendada poucos dias antes, trazia esculpido um sol, uma chave e um livro, em mais uma referência à simbologia alquímica. Sua casa foi invadida e saqueada por populares e mercenários que buscavam metais nobres, jóias e as supostas poções da juventude e vida eterna.

Sua obra escrita também é bem rica. O Livro das Figuras Hieroglíficas (1399), O Sumário Filosófico (1409) e Saltério Químico de 1414 são referências de seus estudos e práticas alquímicas ao longo dos anos. A Biblioteca Nacional, em Paris, contém manuscritos do próprio punho de Flamel; além de registros oficiais como sua certidão de casamento.

Uma espécie de testamento teria sido deixado por Flamel a um sobrinho. Este escrito contém inúmeras anotações feitas sobre os mistérios da alquimia, redigidas pelo próprio alquimista através de um alfabeto codificado com 96 letras, ao longo dos anos de estudo e prática. O Testamento de Nicolas Flamel foi compilado na França em meados do século XVIII e copiado por um escrivão de nome Father Pernetti, para ser "decodificado" posteriormente. Finalmente, publicado em Londres no início do século XIX.

Por outro lado, o manuscrito de Abraão teria sido dado por Flamel a um sobrinho de nome Perrier. Mas a história não faz referência nem traz registros ao sobrinho. Durante o reinado de Luis XIII, um jovem de nome Dubois, supostamente descendente de Flamel, tinha em seu poder um pó através do qual, na presença do próprio rei, convertia chumbo em ouro.

Dubois foi encaminhado a um interrogatório com o Cardeal Richelieu. Argumentando que possuía o pó, mas não saberia compreender os escritos de seu antepassado e tampouco reproduzir aquela substância, Dubois teve seus bens confiscados pela igreja e foi condenado à morte por suposta bruxaria. Entretanto, o manuscrito de Abraão teria sido encontrado em poder de Dubois e, após sua condenação, subtraído por Richelieu.

Conta-se que o Cardeal levou o livro para o Castelo de Rueil onde passou a estudá-lo por muitos anos sem atingir qualquer resultado. Após a morte de Richelieu, não houve mais nenhum registro ao paradeiro do velho manuscrito.

Nesta mesma época, o túmulo de Flamel teria sido violado por ladrões que se surpreenderam ao constatar que não havia um corpo ou tampouco vestígios de que um dia aquele túmulo havia sido ocupado. Este fato gerou o boato de que o alquimista nunca teria morrido. Em outra situação, durante o reinado de Luis XIX, um arqueólogo de nome Paul Lucas havia sido solicitado pelo próprio rei a pesquisar e colher documentos que poderiam contribuir com o desenvolvimento da ciência daquele tempo.

Durante sua pesquisa, de acordo a própria narrativa, Paul Lucas fora saqueado por ladrões que lhe destituíram todo o material acumulado. No entanto, em Voyage dans la Turquie publicado pelo próprio arqueólogo em 1719, conta que conheceu pessoalmente um "filósofo" que "aparentava não ter idade" e que fazia parte de um grupo de sete membros que vagavam pelo mundo em busca de sabedoria e que, a cada vinte anos, se reunia em um local diferente pré-determinado para trocar conhecimento. Naquela ocasião, o local era a cidade de Broussa, na Turquia.

Segundo Paul Lucas, o sábio citou que era possível ao homem viver mais de mil anos se possuísse o domínio sobre a Pedra Filosofal e o Elixir da Longa Vida. Ainda, citou que Nicolas Flamel e Abraão eram componentes daquele grupo.

Fontes: Wikipédia; http://www.spectrumgothic.com.

Pedra Filosofal

Buscando a pedra filosofal - J. Wright (1771)
Obter uma pedra filosofal (Lapis Philosophorum) era um dos principais objetivos dos alquimistas humanos em geral na Idade Média. Com ela, o alquimista poderia transmutar qualquer "metal inferior" em ouro, como também transmutar seres do reino científico-biológico Animalia (reino animal) sem sacrificar algo que desse um valor considerável em troca.Com a pedra, também seria possível obter o Elixir da Longa Vida, que permitiria prolongar a vida "indefinidamente".

A busca por essas pedras são, em certo sentido, semelhantes à busca pelo Santo Graal das lendas arturianas. Em seu romance Parsifal, Wolfram von Eschenbach associa o Santo Graal não a um cálice, mas a uma pedra que teria sido enviada dos Céus por seres celestiais e teria poderes "inimagináveis".

Ao longo da história, criações de pedras filosofais foram atribuídas a várias personalidades, como Paracelsus e Fulcanelli, porém é "inegável" que a lenda mais famosa refere-se a Nicolas Flamel, um alquimista real que viveu no Século XIV.

Segundo o mito, Flamel encontrou um antigo livro que continha textos intercalados com desenhos enigmáticos. Porém, mesmo após muito estudá-lo, Flamel não conseguiria entender do que se tratava. Segundo a lenda, ele teria encontrado um sábio judeu em uma estrada em Santiago na Espanha, que fez a tradução do livro, que tratava de cabala e Alquimia, possuindo a fórmula para uma pedra filosofal.

Por meio deste livro, Nicholas Flamel teria conseguido fabricar uma pedra filosofal. Segundo a lenda, esta seria a razão da riqueza de Flamel, que inclusive fez várias obras de caridade, adornando-as com símbolos alquímicos.

Ao falecer, a casa de Flamel teria sido saqueada por caçadores de tesouros ávidos por encontrar pedras filosofais. A lenda conta que, na realidade, ambos, Flamel e sua esposa, não faleceram, e que em suas tumbas foram encontradas apenas suas roupas no lugar de seus corpos.

Fonte: texto baseado na Wikipedia.